quarta-feira, 16 de maio de 2012

A FÉ REVELADA

A primeira coisa que costumo dizer em minhas aulas de doutrina católica é que não é uma doutrina como as outras, embora todas tenham seu valor e méritos. O que a diferencia das demais é que ela procede não de uma reflexão ou criação imaginativa do homem, mas de uma revelação externa e superior a este.
De fato, se procurarmos bem, veremos que todo o pensamento religioso atual procede de dois blocos:
Um, espiritualista, mítico, isto é, centrado em histórias que explicam o surgimento do mundo e do homem e a percepção de algo que o transcende. Este primeiro parece refletir as culturas que foram se formando ao longo da história. Outro, moral prático, de difícil entendimento e aceitação, pelo cunho de sua exigência moral e de submissão da inteligência em relação a sua doutrina e leis. Este, por sua vez, é  incompreensível do ponto de vista de uma leitura puramente humana, mas aponta para uma espécie de inteligência viva que a supera e sobrepõe; esta inteligênica pessoal que a Si mesma denominou-se "IAWEAH" - "EU SOU" aos antigos hebreus e a que hoje chamamos DEUS.
Do primeiro bloco surgiram as grandes religiões orientais, as manifestações religiosas africanas e também, embora menos comentadas, as chamadas antigas religiões pagãs ocidentais, que vão desde a mitologia greco-romana, até as chamadas nórdicas, celtas e ibéricas, das quais nossa cultura americana é filha. O que todos estes mitos e crenças têm em comum é o seu cunho ESPIRITUALISTA-POLITEÍSTA, isto é, uma tendência geral  ao sentido de transcendência da vida, das coisas, das pessoas e da natureza e à criação mítica de divindades relacionadas a estes aspectos.
Do segundo bloco e na contra-mão de todos os demais surgiu a religião HEBRAICA e seus desdobramentos doutrinais que constituíram o JUDAÍSMO, o CRISTIANISMO, do qual procede o CATOLICISMO, o PROTESTANTISMO e afins, e o ISLAMISMO e afins. O intrigante deste bloco religioso é que todo ele nasce de uma doutrina e uma moral praticamente imposta e contrária às tendências naturais e de costumes de seus tempos, e propõe umas "verdades" que ultrapassam muito a natural compreensão humana, especialmente de povos culturalmente pouco desenvolvidos como foi o caso do povo hebreu - nômade e primitivo em sua organização.
Das antigas práticas religiosas e mitos pagãos procedem o que hoje conhecemos como as grandes religiões orientais, especialmente o INDUÍSMO, o BUDISMO e outras, cuja crença reencarnacionisa - de que o ser, seja ele qual for, se purifica e evolui ou ajuda outros seres por meio de sucessivas  reencarnações - trás o pensamento dos seres como "corpos que contém almas"; corpos como "moradas descartáveis" das almas que a eles se adaptam qual água ao recipiente.
Da prática religiosa hebraica e seus mitos (pois as histórias das sagradas escrituras também tem este caráter mítico) surgiram o JUDAÍSMO, o ISLAMISMO e o CRISTIANISMO, fundados em estranhas revelações que apontam uma hierarquia nos seres, conforme o grau de complexidade de seus organismos e inteligência, dos quais o homem, constituído como uma unidade viva indissolúvel entre corpo (mortal )e alma (imortal), é, por sua razão e vontade live o seu ponto mais alto e também o foco para o qual converge todos os demais seres e criaturas. Apontam também estas escrituras a vida humana como sendo irrepetível em si mesma e com o sentido único de dar gloria ao Deus Único, seu Criador e alcançara a imortalidade do corpo como da alma através de um esforço nesta vida por submeter-se a este Deus pela obediência e confiança absoluta nEle pelo esforço fiel em cuprir suas leis e mandamentos.
Que o primeiro bloco religioso se perpetue e desdobre em muitos outros é coisa lógica, posto que o pensamento humano tem um caminho mais ou menos coerente neste sentido ao longo da história.
No entanto, que o segundo se desdobre em formas e conteúdos ainda mais complexos e pouco compreensíveis à luz do pensamento puramente filosófico humano e ainda por cima se perpetuem numa coerência absoluta com todo o seu pensamento que atravessa mais de 4 mil anos de história, desde os escritos mais antigos até a teologia mais recente do Magistério da Igreja Católica - isto para mim é o mistério mais incrível e incabível que já se apresentou sob a face da Terra. Algo forte aí, para mim, aponta irrevogavelmente para o mistério de um DEUS que se REVELA A SI PRÓPRIO, por pura bondade e nos pede simplesmente a nossa livre adesão, para a qual nos dá a poderosa ajuda do DOM SOBRENATURAL QUE É A FÉ.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Porta Fidae - último trecho

"...14. O Ano da Fé será uma ocasião propícia também para intensificar o testemunho da caridade. Recorda São Paulo: «Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade» (1 Cor 13, 13). Com palavras ainda mais incisivas – que não cessam de empenhar os cristãos –, afirmava o apóstolo Tiago: «De que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obras de fé? Acaso essa fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus e precisarem de alimento quotidiano, e um de vós lhes disser: “Ide em paz, tratai de vos aquecer e de matar a fome”, mas não lhes dais o que é necessário ao corpo, de que lhes aproveitará? Assim também a fé: se ela não tiver obras, está completamente morta. Mais ainda! Poderá alguém alegar sensatamente: “Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me então a tua fé sem obras, que eu, pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé”» (Tg 2, 14-18).


A fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho. De facto, não poucos cristãos dedicam amorosamente a sua vida a quem vive sozinho, marginalizado ou excluído, considerando-o como o primeiro a quem atender e o mais importante a socorrer, porque é precisamente nele que se espelha o próprio rosto de Cristo. Em virtude da fé, podemos reconhecer naqueles que pedem o nosso amor o rosto do Senhor ressuscitado. «Sempre que fizestes isto a um dos meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40): estas palavras de Jesus são uma advertência que não se deve esquecer e um convite perene a devolvermos aquele amor com que Ele cuida de nós. É a fé que permite reconhecer Cristo, e é o seu próprio amor que impele a socorrê-Lo sempre que Se faz próximo nosso no caminho da vida. Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no mundo, aguardando «novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça» (2 Ped 3, 13; cf. Ap 21, 1).

15. Já no termo da sua vida, o apóstolo Paulo pede ao discípulo Timóteo que «procure a fé» (cf. 2 Tm 2, 22) com a mesma constância de quando era novo (cf. 2 Tm 3, 15). Sintamos este convite dirigido a cada um de nós, para que ninguém se torne indolente na fé. Esta é companheira de vida, que permite perceber, com um olhar sempre novo, as maravilhas que Deus realiza por nós. Solícita a identificar os sinais dos tempos no hoje da história, a fé obriga cada um de nós a tornar-se sinal vivo da presença do Ressuscitado no mundo. Aquilo de que o mundo tem hoje particular necessidade é o testemunho credível de quantos, iluminados na mente e no coração pela Palavra do Senhor, são capazes de abrir o coração e a mente de muitos outros ao desejo de Deus e da vida verdadeira, aquela que não tem fim.

Que «a Palavra do Senhor avance e seja glorificada» (2 Ts 3, 1)! Possa este Ano da Fé tornar cada vez mais firme a relação com Cristo Senhor, dado que só n’Ele temos a certeza para olhar o futuro e a garantia dum amor autêntico e duradouro. As seguintes palavras do apóstolo Pedro lançam um último jorro de luz sobre a fé: «É por isso que exultais de alegria, se bem que, por algum tempo, tenhais de andar aflitos por diversas provações; deste modo, a qualidade genuína da vossa fé – muito mais preciosa do que o ouro perecível, por certo também provado pelo fogo – será achada digna de louvor, de glória e de honra, na altura da manifestação de Jesus Cristo. Sem O terdes visto, vós O amais; sem O ver ainda, credes n’Ele e vos alegrais com uma alegria indescritível e irradiante, alcançando assim a meta da vossa fé: a salvação das almas» (1 Ped 1, 6-9). A vida dos cristãos conhece a experiência da alegria e a do sofrimento. Quantos Santos viveram na solidão! Quantos crentes, mesmo em nossos dias, provados pelo silêncio de Deus, cuja voz consoladora queriam ouvir! As provas da vida, ao mesmo tempo que permitem compreender o mistério da Cruz e participar nos sofrimentos de Cristo (cf. Cl 1, 24) , são prelúdio da alegria e da esperança a que a fé conduz: «Quando sou fraco, então é que sou forte» (2 Cor 12, 10). Com firme certeza, acreditamos que o Senhor Jesus derrotou o mal e a morte. Com esta confiança segura, confiamo-nos a Ele: Ele, presente no meio de nós, vence o poder do maligno (cf. Lc 11, 20); e a Igreja, comunidade visível da sua misericórdia, permanece n’Ele como sinal da reconciliação definitiva com o Pai.

À Mãe de Deus, proclamada «feliz porque acreditou» (cf. Lc 1, 45), confiamos este tempo de graça.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no dia 11 de Outubro do ano 2011, sétimo de Pontificado.



BENEDICTUS PP. XVI"

Igreja Católica

sexta-feira, 23 de março de 2012

PORTA FIDAE - sobre o Catecismo da Igreja Católica

11. Para chegar a um conhecimento sistemático da fé, todos podem encontrar um subsídio precioso e indispensável no Catecismo da Igreja Católica. Este constitui um dos frutos mais importantes do Concílio Vaticano II. Na Constituição apostólica Fidei depositum – não sem razão assinada na passagem do trigésimo aniversário da abertura do Concílio Vaticano II – o Beato João Paulo II escrevia: «Este catecismo dará um contributo muito importante à obra de renovação de toda a vida eclesial (...). Declaro-o norma segura para o ensino da fé e, por isso, instrumento válido e legítimo ao serviço da comunhão eclesial».[21]


É precisamente nesta linha que o Ano da Fé deverá exprimir um esforço generalizado em prol da redescoberta e do estudo dos conteúdos fundamentais da fé, que têm no Catecismo da Igreja Católica a sua síntese sistemática e orgânica. Nele, de facto, sobressai a riqueza de doutrina que a Igreja acolheu, guardou e ofereceu durante os seus dois mil anos de história. Desde a Sagrada Escritura aos Padres da Igreja, desde os Mestres de teologia aos Santos que atravessaram os séculos, o Catecismo oferece uma memória permanente dos inúmeros modos em que a Igreja meditou sobre a fé e progrediu na doutrina para dar certeza aos crentes na sua vida de fé.

Na sua própria estrutura, o Catecismo da Igreja Católica apresenta o desenvolvimento da fé até chegar aos grandes temas da vida diária. Repassando as páginas, descobre-se que o que ali se apresenta não é uma teoria, mas o encontro com uma Pessoa que vive na Igreja. Na verdade, a seguir à profissão de fé, vem a explicação da vida sacramental, na qual Cristo está presente e operante, continuando a construir a sua Igreja. Sem a liturgia e os sacramentos, a profissão de fé não seria eficaz, porque faltaria a graça que sustenta o testemunho dos cristãos. Na mesma linha, a doutrina do Catecismo sobre a vida moral adquire todo o seu significado, se for colocada em relação com a fé, a liturgia e a oração.

12. Assim, no Ano em questão, o Catecismo da Igreja Católica poderá ser um verdadeiro instrumento de apoio da fé, sobretudo para quantos têm a peito a formação dos cristãos, tão determinante no nosso contexto cultural. Com tal finalidade, convidei a Congregação para a Doutrina da Fé a redigir, de comum acordo com os competentes Organismos da Santa Sé, uma Nota, através da qual se ofereçam à Igreja e aos crentes algumas indicações para viver, nos moldes mais eficazes e apropriados, este Ano da Fé ao serviço do crer e do evangelizar.

De facto, em nossos dias mais do que no passado, a fé vê-se sujeita a uma série de interrogativos, que provêm duma diversa mentalidade que, hoje de uma forma particular, reduz o âmbito das certezas racionais ao das conquistas científicas e tecnológicas. Mas, a Igreja nunca teve medo de mostrar que não é possível haver qualquer conflito entre fé e ciência autêntica, porque ambas, embora por caminhos diferentes, tendem para a verdade.[22]

13. Será decisivo repassar, durante este Ano, a história da nossa fé, que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos.

Ao longo deste tempo, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, «autor e consumador da fé» (Heb 12, 2): n’Ele encontra plena realização toda a ânsia e anelo do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte, tudo isto encontra plena realização no mistério da sua Encarnação, do seu fazer-Se homem, do partilhar connosco a fragilidade humana para a transformar com a força da sua ressurreição. N’Ele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram estes dois mil anos da nossa história de salvação.

terça-feira, 20 de março de 2012

Porta Fidei - Trecho

"... a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de facto, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos. Os crentes – atesta Santo Agostinho – «fortificam-se acreditando».[12] O Santo Bispo de Hipona tinha boas razões para falar assim. Como sabemos, a sua vida foi uma busca contínua da beleza da fé enquanto o seu coração não encontrou descanso em Deus.[13] Os seus numerosos escritos, onde se explica a importância de crer e a verdade da fé, permaneceram até aos nossos dias como um património de riqueza incomparável e consentem ainda que tantas pessoas à procura de Deus encontrem o justo percurso para chegar à «porta da fé».


Por conseguinte, só acreditando é que a fé cresce e se revigora; não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior porque tem a sua origem em Deus." (Bento XVI, Porta Fidei, 7)

quinta-feira, 15 de março de 2012

A PORTA DA FÉ - Comentário sobre o 1o parágrafo

CARTA APOSTÓLICA SOB FORMA DE MOTU PROPRIO PORTA FIDEI DO SUMO PONTÍFICE BENTO XVI COM A QUAL SE PROCLAMA O ANO DA FÉ

"1. A PORTA DA FÉ (cf. Act 14, 27), que introduz na vida de comunhão com Deus e permite a entrada na sua Igreja, está sempre aberta para nós. É possível cruzar este limiar, quando a Palavra de Deus é anunciada e o coração se deixa plasmar pela graça que transforma. Atravessar esta porta implica embrenhar-se num caminho que dura a vida inteira. Este caminho tem início no Baptismo (cf. Rm 6, 4), pelo qual podemos dirigir-nos a Deus com o nome de Pai, e está concluído com a passagem através da morte para a vida eterna, fruto da ressurreição do Senhor Jesus, que, com o dom do Espírito Santo, quis fazer participantes da sua própria glória quantos crêem n’Ele (cf. Jo 17, 22). Professar a fé na Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo – equivale a crer num só Deus que é Amor (cf. 1 Jo 4, 8): o Pai, que na plenitude dos tempos enviou seu Filho para a nossa salvação; Jesus Cristo, que redimiu o mundo no mistério da sua morte e ressurreição; o Espírito Santo, que guia a Igreja através dos séculos enquanto aguarda o regresso glorioso do Senhor."

A Fé é mesmo um dom de Deus para nós, e como tal, não deixa nunca de ser gratuito. No entanto, de que adianta uma porta entreaberta se não ousamos passar por ela? Assim, se não nos aproximamos dela (o dom da Fé) através do estudo acompanhado da oração sincera e da boa vontade do coração, não é possível experimentá-la, o que a torna infrutífera em nossa vida.
Portanto, aí estão os três grandes veículos que nos levam a aproximarmos desta valiosíssima porta, bem como adentrá-la e nela permanecer cada vez com mais profundidade ao longo da vida: a oração sincera, uma disposição honesta do coração e um estudo aplicado do conteúdo desta mesma Fé.
Oração sincera: "Pedi e recebereis" - diz o Senhor (Mt 7, 7). O homem, sobremodo o homem contemporãneo, tem forte tendência para achar que tudo o que faz e consegue se dá por mérito pessoal. Valoriza-se o homem "forte", o que produz, o que faz a sua própria história, o solitário herói louvado por Nietzsche no limiar do séc. XX.  No entanto o homem que Deus revela ao Homem por sua Encarnação, Vida, Paixão e Morte, é sempre o grande desvalido, o incompleto, o necessitado na verdadeira acepção do termo. Todo homem está retratado de certa forma como o expoliado da parábola do samaritano. "Ecce Homo" (Eis aí o Homem!) - disse Pilatos ao apresentar Jesus esfarrapado, sujo e em carne viva ao povo judeu no Pretório. "Eis o Homem": Eis cada um de nós ali. Que fazer então?  Reconhecer a nossa indigência e a infinita riqueza de Deus que nos quer como seus "sócios majoritários", herdeiros de toda a sua Fortuna; em uma palavra: PEDIR. Mas pedir com humildade e mãos abertas, porque não se pode receber o Dom de Deus sem quaisquer desses dois quesitos.
Disposição honesta do coração: "Se alguém me quer seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas o que perder a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á."  (Mc 8, 34-35). São Josemaría em uma de suas homilias no livro Amigos de Deus conta a experiência de ter estado num campo onde há poucas horas teria havido uma batalha. Encontrava-se pelo chão objetos, mochilas, roupas, alimentos... e até recordações em forma de retratos e cartas... Tais objetos largados pelo caminho não pertenciam aos que perderem a batalha, mas ao contrário, aos que a venceram... Largaram mão de tudo o que estorva para correr com todas as forças para a meta; no caso, a linha de frente do combate...  Não deveríamos nós fomentar este mesmo espírito de desprendimento audaz em relação a tudo o que estorva a nossa vida de Fé? E porque não deixar a própria pele, se o Próprio Jesus a sua deixou por nós??  Disposição honesta: mudar de vida; deixar de lado os caprichos e interesses pessoais e mesquinhos que nos afastam do próximo e do Próprio Deus; tirar o que sobra; mortificar os maus hábitos e tendências.
Estudo aplicado: Eu gostaria apenas de citar aqui algumas palavras da Constituição Apostólica "Fidei Depositum" (Depósito da Fé) promulgada pelo Beato João Paulo II em 11 de outubro de 1992, trigésimo aniversário do Concílio Ecumênico Vaticano II, as quais nos devem servir de incentivo para que queiramos mais e mais nos aplicar a este estudo, mais importante nos nossos dias do que quaisquer outros a que possamos nos dedicar.
"Introdução
Guardar o depósito da Fé - tal é a missão que o Seunhor confiou à sua Igreja e que ela cumpre em todos os tempos. O Concílio Ecumênico Vaticano II, inaugurado há trinta anos pelo meu predecessor João XXIII, de feliz memória, tinha como intenção e finalidade pôr em evidência a missão apostólica e pastoral da Igreja, e fazendo resplandecer a verdade do Evangelho, levar todos os homens a procurar e acolher o amor de Cristo que excede toda a ciência (cf. Ef.3, 19).
Ao Concílio, o Papa João XXIII tinha confiado, como tarefa principal, guardar e apresentar melhor o depósito precioso da doutrina cristã, para o tornar mais acessível aos fiéis de Cristo e a todos os homens de boa vontade. portanto, o Concílio não era, em primeiro lugar, para condenar os erros da época, mas devia sobretudo empenhar-se em mostrar serenamente a força e a beleza da doutrina da fé." (...)
"Conclusão
No final deste documento, que apresenta o "Catecismo da Igreja Católica", peço à santíssima Virgem Mria, Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Igreja, que ampare com a sua poderosa intercessão o empenho catequético da Igreja inteira a todos os níveis, nestes tempos em que é chamada a um novo esforço de evangelização. Possa a luz da verdadeira Fé libertar a humanidade da ignorância e da escravidão do pecado, para a conduzir à única liberdade digna deste nome (cf. Jo. 8, 32): a da vida em Jesus Cristo, sob a condução do Espírito Santo, na Terra e no Reino dos Céus, na plenitude da bem-aventurança da visão de Deus face a face (cf. 1 Cor. 13, 12;  2 Cor. 5, 6-8)!" (João Paulo II)

Espero ajudá-los e ajudar-me a mim mesma a querer mais e melhor percorrer este caminho especialmente nestes meses que nos separam da abertura do Ano da Fé anunciado por Bento XVI. VAMOS LÁ.


quarta-feira, 14 de março de 2012

QUAL É O DESÍGNIO DE DEUS PARA O HOMEM?

Primeira pergunta do Compêndio do Catecismo da Igreja Católica; ... e a resposta claríssima e sem vacilação:
"Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em si mesmo, por um desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para fazêlo participar da sua vida bem-aventurada. Na plenitude dos tempos, Deus Pai enviou seu Filho como redentor e salvador dos homens caídos no pecado, convocando-os para sua Igreja e tornando-os filhos adotivos por obra do Espírito Santo e herdeiros da sua eterna bem-aventurança."
Os batizados somos filhos "no Filho"; herdeiros da FELICIDADE COM MAIÚSCULA; por meio da cruz redentora do Filho, para cujo consórcio nos capacita o Espirtito Santo, que nos vai tornando também mais e mais capazes desta bem-aventurança em Deus que está muito acima, mas que também comporta todas as desta vida terrena. Nossa alegria de filhos e filhas de Deus começa aqui e agora e ultrapassa os limites da nossa própria vida terrena. Para chegar a ela é preciso associar-se coo Filho na sua cruz - não qualquer cruz, mas a Sua Cruz, a Santa Cruz, como dizia São Josemaría Escrivá - perdendo o medo à dor e acolhendo-a na própria vida com este olhar para Cristo que nos tira de todo vitimismo e nos dá moral de vitória; vitória sobrenatural sobre a própria dor e a morte, mas principalmente, vitória sobre a morte da alma causada pelo nosso livre consentimento no pecado.
"Começar e recomeçar" - dizia-nos São Josemaria - "lutar por Amor até o último instante.. este é o nosso destino na terra.". Lutar por Amor e sem jamais desesperar ou esmorecer, porque a vitória, já no-la deu O Próprio Jesus. Assim chegaremos a viver a Vida mesma de Cristo; assim viveremos de Fé, de Esperança e de Caridade.
Iuiú Botelho - reflexões sobre o primeiro ponto do Catecismo da Igreja Católica.